lem·brar
Chiquita Room - Barcelona
Todas as avós permanecem. Deixam-nos para sempre um rasto tão antigo, poderoso e brilhante como as estrelas. Se seguirmos esse rasto, se abraçarmos a sua história e a tornarmos nossa, podemos chegar a lugares inimagináveis. Este é o ponto de partida para Lembrar: três netas de três lugares completamente distintos que se encontram com as suas três avós paternas – Berta, Lola e Bia – um espaço compartido que antes nem sequer existia.
As avós podem estar em caixas de costura, receitas ou canções de embalar, mas também estão no nosso sangue e na sabedoria que nos legaram. É uma questão de darmos atenção a essa constelação de retratos, paisagens, objectos e memórias que sobreviveram milagrosamente ao esquecimento e que nos deixam somente a recordação difusa e subjectiva do que realmente foram. Devemos recordar as avós porque com elas descobrimos mais para além dos seus dons: um universo fascinante e muitas vezes silenciado que esteve sempre aqui, mesmo que adormecido, esperando um pouco de luz para despertar.
A transmissão do passado familiar é tão frágil que essas recordações, por insignificantes que pareçam aos que com elas não têm ligação emocional, transformam as nossas avós nas autênticas guardiãs da memória colectiva. E, mesmo que inevitavelmente uma parte do discurso se tenha perdido no tempo, ainda se pode sentir a vida que late atrás de cada peça ou fotografia que nos deixaram, pedindo a gritos que preenchamos a suas lacunas com novas correspondências.
Hoje queremos ser nós as guardiãs da sua memória.
― Alba Casaramona, LEM·BRAR, 2020