Sopro
Museu Coleção Berardo
O ano de 2020, iniciado com grande expectativa acabou, contrariamente, por ser um ano de pausa, de recolhimento e de reflexão derivado desta avassaladora pandemia. O que a Covid-19 nos trouxe, foi uma necessidade de repensar a gestão humana na ocupação do território, na sua partilha e na nossa ligação com a natureza e de usar este evento negativo para perspectivar melhorias no futuro.
OO vírus assemelha-se a uma erva daninha, pela rapidez com que se propaga e chega a qualquer território, mesmo que a erva se corte e se arranque pela raiz, é difícil controlar. O Dente-de-Leão é uma erva invasora. Soprada pelo vento, ou propagada através de sementes pelo solo, coloniza e multiplica-se. É uma erva amarga, numa perfeita analogia com estes tempos amargos.
A obra Sopro é formada por 27 chapas de alumínio de diferentes recortes, referenciando as diversas fases do desabrochar da flor do Dente-de-Leão, dispostas de acordo com o mapa mundial de propagação da Covid-19. Cada artista intervém em 6 chapas diferentes, utilizando tinta de esmalte, grafite, betume, folha de ouro e vinil autocolante. A metamorfose final do Dente-de-Leão está intimamente ligada à esperança. Todos nos lembramos de soprar um Dente-de-Leão para obter um desejo. Aqui, um desejo comum de regresso à normalidade.
― Atelier Contencioso, 2021
― Fotografia © Rita Carmo / Museu Coleção Berardo