Sufoco
Galeria Cisterna
« Os vários objectos funcionam como uma espécie de mapas tridimensionais para a memória, sejam os papéis plissados a partir de esquemas de costura da revista Burda, os tecidos de velhos colchões de palha (enxergas) nos quais inscreveu desenhos, os travesseiros suspensos, todos provenientes de um universo familiar relativamente extinto. Sabemos que aconteceram, numa antecâmara processual mais ou menos invisível, diários gráficos preparativos e um livro de artista onde refez os seus desenhos de infância, gerando hieróglifos pessoais em parte detectáveis no exposto.
Uma peça em particular, o papel plissado em forma de fenda, é assumido como ligação simbólica ao acto de encher os colchões empurrando a palha através de uma fresta. Este movimento e seus respectivos objectos são totens privados, mas altamente extensíveis ao observador, chamado a colocar em jogo a sua própria memória (os referenciais serão comuns) com a da artista. Tudo funciona precisamente em dupla – alguns dos conceitos enunciados são “só/acompanhado” e “real/sonho”. O observador pode ser sugado pelo referido rasgão ou cair no Sufoco, título da peça dos travesseiros. »
― Texto de João Macdonald , 2021