Mano-A-Mano
Águas-Livres 8
« Mano-a-mano é uma expressão que designa um combate corpo-a-corpo, em que os adversários se enfrentam usando as próprias mãos.
O tríptico de Xana Sousa remete-nos para um outro tríptico, de Aleksandr Rodchenko, datado de 1921: Puro Vermelho, Puro Amarelo e Puro Azul, a proclamada conclusão lógica da pintura. No entanto, este final anunciado da pintura foi, nos últimos cem anos, alvo de sequelas, adendas e reviravoltas. Encontramos aqui 3 superfícies de cera de abelha progressivamente pigmentadas a negro; curiosamente, a que mais se assemelha uma pintura é, na verdade, a mais impura de todas. Junto a este tríptico, um cubo branco de sabão: bloco escultórico, perfeito e marmóreo, enquadrado pela estrutura de madeira, rude e desigual que lhe serviu de molde.
A fechar a exposição um burladero vermelho, de Xana Sousa. Os burladeros são objectos utilizados nas praças de toiros, e que servem de protecção aos toureiros, resguardando-os das investidas dos touros. Estranho sucedâneo dos antigos retábulos, este burladero alia as naturezas de alvo e barreira, relembrando os alvos pintados de Jasper Johns e, sobretudo, os Tirs de Niki de Saint-Phalle. No entanto, não estamos perante um gesto iconoclasta ou de negação da pintura. Muito pelo contrário, trata-se, em toda a sua impureza, de uma afirmação de pintura, da sua constante renovação e vitalidade.
Como diz Roger Caillois, "no fim do jogo, tudo pode e deve começar de novo".»
― Curador Jorge Catarino, Texto Mano-A-Mano, 2019